quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Lembrete

Não te ponho no mundo pra que você seja doutor, senhor ou excelência.
Não te ponho pra que seja músico, escritor, de esquerda ou de direita. 
Não quero saber se você vai ser católico ou ateu, hetero ou gay,
flamenguista ou tricolor, virgem ou libra.
Pouco me interessam suas grandes escolhas.
Se forem iguais às minhas, melhor pra mim.
Se não forem, vão me fazer lembrar que não é essa a questão.

Te ponho no mundo pra que se perca nas cores do céu,
azul branco cinza preto vermelho rosa laranja lilás.
Pra ver os formatos das nuvens indo e vindo,
ouvir cigarras numa noite sem estrelas,
ver estrelas num céu de verão.
Te ponho no mundo pra que você sinta os dedos dançarem,
 a voz correr solta,
a face descontrair numa música que te mande no corpo.
Pra que, numa noite fria, você se veja rodeado de amigos,
todos em volta de uma fogueira,
escutando o fogo crepitar em meio a notas de um violão.
Te ponho no mundo pra que você se banhe no mar, na cachoeira, no rio,
e se sinta aquecido sobretudo com a água gelada.
Pra que passe horas de um domingo à tarde na cama,
se dedicando à tarefa mais urgente de todas:
encher de cosquinhas quem você ama. 

Te ponho no mundo pra que aqueça.

Meu filho, quando eu vier com exigências loucas
e esquecer pra que te coloquei no mundo,
peço só que você me lembre:
foi de dentro pra fora que te trouxe aqui.
e não de fora pra dentro.