segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

PRIMEIRO DIA DO ANO


Ao procurar no google "primeiro de janeiro", eis o que me aparece!

O primeiro dia do ano sempre tem cara de ontem. Peso de um ano inteiro que se materializa em olheiras, em cansaços, em molezas.É o quarto que cheira a champanhe azedo; é a pele que gruda e mela no lençol; é a garganta que reclama por água pra fazer descer um engov entalado no meio. E, enquanto isso, uma cara amassada de ressaca tenta juntar as peças, que se comprimem e latejam na cabeça que dói: ainda ontem era o final do ano, hoje já estamos de novo no início.
A impressão que tenho é que o ano inteiro é uma brincadeira de criança, mas que no primeiro dia estamos de “altus”*. Retrospectivas do ano que passou, metas pro ano que começa... Como angustia parar e olhar pra trás ou pra frente! Parece sempre que algo está desajustado. Que os ponteiros do relógio estão errados. Um ano passado que não foi bem como queríamos, um ano que vem já temeroso por não corresponder ao que dele planejamos.
Aliás, agora emendo: o primeiro dia do ano não tem só cara de ontem – ele também tem cara de amanhã. Um amanhã com o peso de um ano inteiro. Ah, como pesa o primeiro de janeiro! Sempre a fugir da gente, TUDO O QUE ELE NÃO TEM É CARA DE HOJE.
Fotos bonitas, roupas brancas, viagens, fogos, champanhe. Existe toda uma papagaiada que precede a virada do ano e que perdura durante o primeiro dia que chega. Porém, como acontece com qualquer papagaiada, ela só serve de disfarce, pra esconder o que realmente importa. Pois, enquanto nos ocupamos desse ritual, o “hoje” nos escapa, tal qual numa brincadeira de esconde-esconde.
Não quero, no entanto, que me levem a mal. Adoro as breguices das sete ondas, do beijo na hora da virada, de ver os fogos com os pés na areia. Porém, a pergunta que realmente importa é: para além de tudo isso, o que fica desse ritual? Como fazer para ele não nos escapar e cair no vazio? Ou ainda, como fazer pra que, de primeiro de janeiro, ele não se transforme em primeiro de abril - mera convenção ou caô social, o primeiro da largada de 365 outros que estão por vir?
Pensando bem, tudo isso é muito estranho: fazemos promessas para um ano inteiro e, no dia mesmo em que o fazemos, já corremos o risco de começarmos o ano desobedecendo o único plano que realmente importa. Plano que não está nos planos, e que se resume a uma única palavra: VIDA.
Uma vida que só se faz no hoje, longe de qualquer moralismo de recompensas de um Papai Noel ou do além de um outro mundo. Sua ética é a da alegria, e não a da culpa, pois é disso, afinal, que precisamos. Uma vida que inclui infinitos caminhos, infinitas possibilidades.
Como diz o livro que tô lendo**, não há caminhos certos ou errados, mas somente caminhos com ou sem coração. É esse aliás o único plano, a única meta: traçar um caminho com coração. Caminho que não espera, que não adia, que não se planeja – ele se faz a cada instante, 365 dias por ano. Nele, não há pausas para retrospectivas ou planejamentos, mas somente fluxos incessantes, sem “altus”, férias ou recessos.
Emagrecer? Entrar menos no facebook? Economizar dinheiro? Escrever um blog? Nada disso realmente importa. Afinal, em terrenos de obrigações, o coração passa longe.
O que fazemos então? A única saída, oras, é viver. Mergulhar no fluxo de vida, que só se faz com coração. Mergulhar fundo, seguir sua maré, desejar suas águas e, sempre que possível, espiar um pouquinho, ter ao menos uma vaga noção do caminho que rumamos.
São esses meus planos para 2013. E os seus?

*Expressão infantil que quer dizer "pausa" durante alguma brincadeira.
** O livro é do Carlos Castañeda, e se chama "A Erva do Diabo" (Editora Nova Era, 1968). Recomendadíssimo!

2 comentários:

  1. os meus são me dedicar à musica, dar o melhor de mim em tudo, tudo isso para trilhar um caminho com coração.

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  2. se dedicar à música é sempre uma ótima forma de se estar de coração nas coisas! boa sorte, mario!! :)

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