O carnaval é
sujo. Gosto seco de poeira, de xixi, de cerveja quente. As cabeças são
coloridas e cheiram à alegria, mas o chão é cinza e preto e cheira à ressaca.
Tem muita gente por aí avessa ao
carnaval. E, cá pra nós, é fácil não gostar. É confortável preferir o aconchego
do ar condicionado, da água fresca, da caminha que nos engole... São tentações
que nos puxam, nos convocam, e até os mais carnavalescos precisam respirar
fundo e, num ato de coragem, dar as costas a todas essas tentações diabólicas e
hedônicas.
Porém, sem qualquer julgamento ou
juízo de valor, o que está em jogo aqui é simples: por onde a vida corre? Os fluxos de vida, é claro, são diferentes
pra cada um, mas preciso confessar: durante esses quatro diazinhos de fevereiro,
não consigo imaginar a vida correndo por outro lugar que não seja por entre
confetes e serpentinas, máscaras e sorrisos, encontros e desencontros, suores e
xixis (sim, os xixis, pois nesses dias até eles têm suas histórias pra
contar!).
É tudo na base do imprevisto e da
surpresa, pois a vida, assim como a morte, não tem hora marcada e nem bate na
porta pedindo pra entrar. A vida invade, se impõe; é o penetra da festa. E, no
carnaval, ela se veste de alegria, arromba a porta da rua e adentra, toda majestosa e cheia de si.
Com a testa suada, os pés descalços e a língua sedenta, ela (per)corre cantos e
becos, veloz, imponente e impiedosa. É tudo rápido e intenso demais e, é claro,
só poderia ser quente, em ebulição.
Pois a vida, ah, a vida não gosta do morno e é avessa ao frio. A vida
fervilha, se choca, se atrita. E o carnaval é tudo isso. Ele é molhado,
fervente, é uma panela em ebulição. O carnaval é overdose de vida.
Foto do meu amigo Francisco Costa/ I Hate Flash |
Nunca vi alguém descrever tão bem o que sinto pelo carnaval... Obrigada lu... Lindo!!!!
ResponderExcluirQue bom que gostou Nat! É que as foliãs se entendem entre elas! ;)
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