Ano novo é como uma página em branco. Dá uma agonia... Reluzente a doer
a vista, lá vai ele a nos provocar: “E agora, qual fonte você vai usar? Não vá
me dizer Times New Roman de novo... E qual cor? Promete sair do pretinho
básico, ao menos de vez em quando?”. Para responder às cobranças de sempre, dessa
vez escrevi uma carta.
“Querido ano novo,
Como é difícil olhar de frente para você! Encaro a tela em branco há
horas, sem encontrar as palavras com as quais te dirigir. São as primeiras letras
do ano, e desconheço suas cores e fontes.
Não quero camuflar sua importância, Sr. Ano Novo, com metas e promessas.
Seria quase uma blasfêmia. Uma forma de não te olhar na cara. Pois ambos
sabemos – eu e você – que não sou eu a dona do pedaço.
Todo ano, escrevo listas, tão logo esquecidas. Item por item, todos
atropelados. Avalanche de Vida, é isso o que o Senhor é. O que são meus votos
para 2015 frente à potência dos seus ventos?
Se me permite, Sr. Ano Novo, peço olhos para fora. Quero observar a
fonte de cada letra escrita. Quais são as cores de suas palavras faladas?
Também desejo ouvidos para o amanhã. De quando em vez, sussurra-me seus
segredos? E, se eu adoecer de palavras, acaricie-me com seus silêncios?
Presenteie-me também com um coração bem turrão. Pronto para porrada, mas
sobretudo para o amor. Porque é preciso mais força para admirar um passarinho
no asfalto do que para aguentar as alfinetadas nossas de cada dia.
Peço pulmões fortes, Sr. Ano
Novo, para mergulhar fundo em seu fluxo de palavras. Corrente de letras e mais
letras, escarradas sempre à frente. Me dê fôlego para acompanhá-las de perto e
sabedoria pra perceber quando eu estiver muito para trás.
Porém, mais que pedir, desejo agradecer. Porque o senhor é a Vida, outra
vez a renovar. Para 2015, meu voto é um só: vamos de mãos dadas?
Da sua,
Luisa"
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