Estou de
casa nova já faz um ano. Desde então, pouco olhei pela janela. Não sou
curiosa com os quadradinhos vizinhos, não conheço as sombras no muro à frente,
não me familiarizei com o sinal de trânsito na esquina. De quanto em quanto
tempo ele abre e fecha? Mal reparo nos galhos da árvore, quase extensão de casa
– será que abrigam ninhos de passarinho? Durante o dia, será que morcegos se
penduram nela, sonos de ponta cabeça? Na quina da janela, tem uma pracinha,
mas pouco me delicio com pedaços de pernas e de vozes – pedaços de vida! - que brincam por lá.
Na minha casa antiga, onde cresci, meu espaço preferido era a varanda. Testemunha de intermináveis divagações, lá era meu refúgio sempre que algo me inquietava. Deitava na rede e, com esperanças adolescentes, mirava o Cristo Redentor, ilustre vizinho, a espera por respostas. E não é que elas sempre vinham? Conhecia bem as árvores. Quando uma era podada, estranhava a nova paisagem. Observava as casas ao redor e me perguntava como eram por dentro. Apreciava a dança dos pássaros, e imaginava que os galhos eram ruas e as árvores, cidades. Teve uma época em que cheguei mesmo a abrigar em casa um pequeno passarinho, nascido na varanda e de asas ainda vacilantes.
Na minha casa antiga, onde cresci, meu espaço preferido era a varanda. Testemunha de intermináveis divagações, lá era meu refúgio sempre que algo me inquietava. Deitava na rede e, com esperanças adolescentes, mirava o Cristo Redentor, ilustre vizinho, a espera por respostas. E não é que elas sempre vinham? Conhecia bem as árvores. Quando uma era podada, estranhava a nova paisagem. Observava as casas ao redor e me perguntava como eram por dentro. Apreciava a dança dos pássaros, e imaginava que os galhos eram ruas e as árvores, cidades. Teve uma época em que cheguei mesmo a abrigar em casa um pequeno passarinho, nascido na varanda e de asas ainda vacilantes.
Ah! Como era bom o tempo em que
sabíamos a arte do não fazer nada! Em assuntos de ócio, a criança é mestre
maior. Já hoje... até a preguiça é paga e se chama férias na Bahia, uma vez por
ano e olhe lá. Mas e cadê o ócio de casa? Não aquele da TV, que hipnotiza e
embriaga, mas sim o da janela, que apazigua e dá respostas? Da varanda onde
cresci, já não consigo distinguir a mim de meus devaneios ao pé do Cristo –
eles constituem uma parte importante do que sou hoje. É preciso o vazio para
que dele saltem estrelas.
Lembro-me da primeira vez em que
entrei no meu atual apartamento. Assim que cheguei ao quarto, a janela me
ofuscou tanto a vista que não reparei em mais nada. Imponente, ela é dessas que
não se fazem mais hoje em dia: sua extensão toma uma parede inteira; em altura,
o teto é o limite. Do lado de lá, uma Amendoeira cor de Brasil quase invade o
quarto, enquanto suas folhas sussurram um pedido de amizade: seria ela minha
nova confidente?
Hoje, um ano depois, são tantos os
afazeres que pouco me sobra para não fazer nada. E o olhar de criança,
esquecimento de si e abertura para o mundo, muitas vezes fica guardadinho para
momentos de maior saúde e sanidade. Às vezes, em manhãs sem despertador ou
sobrancelha franzida, ele dá o ar de sua graça. Ainda deitada na cama,
espreguiço-me até a ponta do mundo e, com a barriga dos dedos, puxo a cortina e
espio o dia. Por entre os verdes de minha amiga Amendoeira, entrevejo retalhos
azuis, desses que prometem alegria. Suas folhas brilham pedaços de sol. Com carinho, me
cutucam: “Ei, você! Tem criança aí dentro!”.
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